Brotas de Macaúbas celebra seus 143 anos de emancipação política

Brotas de Macaúbas é uma das mais antigas cidades da Bahia. Nasceu da procura dos garimpeiros pelos diamantes e o ouro, abundantes em nosso território. Na próxima sexta-feira, 16 de julho, comemora-se os 143 de emancipação política, mas na verdade são mais de 200 anos de existência, desde a chegada dos primeiros habitantes, com a descoberta da fonte de água no Boqueirão.

Nosso município enfrentou guerras e muitas secas, mas sempre se manteve fiel às suas mais ricas tradições cristãs.

A “terra dos doutores”, como foi chamada no passado, também é a capital do Divino Espírito Santo e marca na história da Bahia e do Brasil com importantes acontecimentos ao longo de 143 de emancipação política.

A marca dos índios

Os primeiros moradores em Brotas de Macaúbas foram os índios. A maior nação indígena brotense era conhecida como Tapuia. Vivia da caça e da pesca até a chegada dos primeiros brancos – garimpeiros de origem portuguesa vindos de Minas Gerais, principalmente, no final do século XVII.

O choque de culturas foi muito grande. Os índios resistiram, mas os brancos mais fortes e armados conseguiram dizimar a cultura indígena em nossa região.

A presença desses primeiros brotenses, no entanto, persiste nas pinturas rupestres deixadas em grutas e grandes pedras que podem ser estudadas em diversos pontos de nosso município. Muitas famílias brotenses mantêm até hoje os traços indígenas e seus costumes – o de fazer beiju de massa e farinha, por exemplo.

Hoje não existem famílias exclusivamente branco-portuguesas, nem tampouco genuinamente indígenas, formadas unicamente por descendentes desses índios primitivos e pioneiros exploradores. Há a mistura do índio com o branco e também com o negro, trazido escravizado, e com os filhos destes.

Uma gente que conserva na cor da pele, no cabelo, nos traços fisionômicos e na cultura a origem do que podemos chamar a alma brotense.

Corrida do ouro

Só o brilho do ouro e dos diamantes, fartos em nossa região, para atrair garimpeiros vindos do Grão Mongol e do Tijuco, em Minas Gerais. Vieram também desbravadores portugueses, seguidos por comerciantes turcos e judeus e os escravos negros. O choque com os índios nativos foi inevitável e o genocídio indígena marcou de sangue o chão brotense nesse confronto desigual. A mistura desses povos gerou uma gente mestiça e destemida que iria se juntar mais tarde num grande exército às lutas travadas para garantir a autonomia municipal.

A história de Brotas de Macaúbas é marcada pela valentia desses filhos de portugueses, negros, índios, árabes e judeus. Aqui eles forjaram uma civilização ímpar, onde o diamante e o ouro dos primeiros dias foram sendo substituídos pela força da inteligência e pela cultura da fé e da paz. Essas são as marcas da terra nascida sob o signo do milagre de Nossa Senhora de Brotas e do surgimento da capela em devoção à santa que deu origem à povoação, que se fez vila e depois cidade.

O primeiro diamante

Brotas de Macaúbas desponta na Chapada Diamantina como o local onde, em 1842, foi encontrado o primeiro diamante da região – no local onde mais tarde surgiu a antiga vila de Chapada Velha. Foi no garimpo de José Pereira de Matos (também conhecido como Seu Quincas, pai de Clementino de Matos e avó do coronel Horácio de Matos, que viria a ser intendente. Seu Quincas veio do Grão Mongol, Minas Gerais, desembarcando em terras baianas pelo Rio São Francisco em dezembro de 1839, entrando mato adentro com a coragem de um guerreiro. A descoberta de tão cobiçada pedra preciosa desencadeou a grande corrida de garimpeiros, aventureiros e jagunços e toda ordem de gente para as Lavras Diamantinas. Bambúrrios e infortúnios se sucederam numa desenfreada luta de coronéis, manchando o solo árido de muito sangue.

Cayam-Bola e Romão Gramacho

Contam os mais antigos que o primeiro nome de Brotas de Macaúbas foi Cayam-Bola, provavelmente de origem indígena. Além dos índios, que desapareceram na forma original, os primeiros habitantes eram garimpeiros e pessoas que trabalhavam na extração e comercialização de diamantes, muitos dos quais vindos de Portugal.

O território brotense estaria incluído em terras permitidas à exploração ao aventureiro Romão Gramacho, cujo registro de sua passagem por aqui também é inexistente. O certo é que nossas terras, com a permissão dos herdeiros da Casa da Ponte, foram arrendadas e posteriormente vendidas a um dos primeiros desbravadores – Carlos Rodrigues Barreto de Araújo. Estabelecido na Fazenda Santana e, depois, na Fazenda Fundão (hoje Ipupiara) com a esposa e 12 filhos.

As terras da Fazenda Fundão foram sendo divididas e distribuídas com os sucessivos casamentos dos filhos do casal Araújo Barreto, surgindo assim diversas localidades, a exemplo de Olhos D´água, São Domingos, Pega (Nova Santana), Buriti, Riacho do Carro, Caldeirão (Sodrelândia), Pedra Pintada, Canabrava (Cristalândia), Gameleira (Ibipetum) dentre outras.

Santa protetora

A cidade de Brotas de Macaúbas surgiu e cresceu em torno da pequena capela devotada a Nossa Senhora que foi construída pelos herdeiros da família Araújo Barreto. Os irmãos Mathias (Mathiota) Rodrigues, Felipe Olímpio e Antônio Sodré trouxeram da capital da Província a imagem da padroeira, Nossa Senhora de Brotas, que permanece até hoje como protetora de todos os brotenses. A santa e o próspero comércio de pedras atraíram muitos moradores e o lugarejo cresceu tendo sido elevado à condição de município em 20 de junho de 1882. Com relação à capela, que foi reformada várias vezes, valendo registro as de 1901 – concluída em 1910 -, quando foi totalmente ampliada e retelhada; dos anos 40, quando a igreja ganhou a primeira torre, construída pelo mestre pedreiro José Viana; Nos anos de 1990 quando teve a nave central ampliada, ganhou novo telhado e pintura e mais recentemente nos 2000, oportunidade em que foi erguida a segunda torre. Sobre a história da capela há ainda o registro de que Prudente de Araújo Rodrigues Barreto conseguiu da família a escritura da gleba de terras que foram doadas a Nossa Senhora de Brotas. Há documentação nesse sentido no Cartório de Registro de Imóveis da Comarca. O pequeno povoado de origem, em 1847 foi elevado à condição de freguesia. Em 16 de junho de 1878, por Lei Provincial, o território ganhou a denominação de Vila Agrícola de Nossa Senhora de Brotas.

Nos anos 40 – logo após o fim da II Guerra Mundial –, mais precisamente no dia 8 de setembro de 1947, Brotas celebrou o primeiro centenário da Freguesia (Paróquia).

Emancipação

O município de Brotas de Macaúbas, que era extraordinariamente grande e tinha sete mil quilômetros quadrados, incluía as terras que hoje formam os municípios de Morpará (margem do Rio São Francisco), Barra do Mendes e Ipupiara, hoje possui respeitáveis 2.372,44 km2.

A emancipação política do município aconteceu em 16 de julho de 1878, pela  Lei Provincial de nº 1.817, assinada pelo então presidente (governador) da Província da Bahia e dignitário da Ordem das Rosas, o barão Homem de Melo, integrante do Conselho de sua Majestade o Imperador Dom Pedro II, responsável pela lei que elevou a Freguesia de Nossa Senhora de Brotas de Macaúbas à categoria de Vila, sob a denominação de Villa Agrícola de Nossa Senhora de Brotas, com seu território desmembrado do município de Macaúbas. A instalação definitiva do novo município, porém, somente se efetivou em 20 de junho de 1882, com a posse de Antônio Sodré de Araújo Barreto, o primeiro Intendente (prefeito) municipal.

Brotas se destaca ainda na luta contra duas ditaduras. A de Getúlio Vargas impôs ao nosso povo a intervenção de Nestor Rodrigues Coelho. Este governou o município por quase 15 anos, até a eleição de Osório D´Oliveira Rosa, o primeiro prefeito eleito democraticamente e em eleições livres.

Contra ditaduras

Brotas se destaca ainda na luta contra duas ditaduras. A de Getúlio Vargas impôs ao nosso povo a intervenção de Nestor Rodrigues Coelho. Este governou o município por quase 15 anos, até a eleição de Osório D´Oliveira Rosa, o primeiro prefeito eleito democraticamente e em eleições livres. Na ditadura militar, entre agosto e 17 de setembro de 1971, os brotenses assistiram ao assassinato do filho da terra José Campos Barreto (Zequinha) e do capitão Carlos Lamarca, perseguidos como inimigos do regime instalado no Brasil em 31 de março de 1964

A sede do município está a 600 quilômetros de Salvador e por diversas vezes figurou no cenário político nacional. No início do século passado, quando das guerras entre os coronéis Clementino Pereira de Matos (filho do pioneiro Quincas) e seu sobrinho Horácio de Matos, da Chapada Velha, que lutaram contra Militão Coelho, de Ipupiara/Barra do Mendes. A disputa entre os chefes políticos conflagrou a região e envolveu ainda diversas cidades da Chapada.

Em 1971 – anos de chumbo da ditadura militar – a população local assistiu a caçada e o assassinato do capitão do Exército e guerrilheiro Carlos Lamarca que tombou, juntamente com um filho de Brotas, José Campos Barreto, o Zequinha, no povoado de Pintada (Ipupiara). Naquela época, o município viveu dias de muita tensão e terror, especialmente na comunidade de Buriti Cristalino, onde as forças do Exército mataram também o professor Santa Bárbara e Otoniel Barreto, baleando Olderico Barreto, os dois últimos irmãos de Zequinha, além de torturarem selvagemente o pai deles, José Campos Barreto.

Hoje o dia 17 de setembro é feriado municipal, marcando a morte dos guerrilheiros durante uma operação comandada, na ocasião, pelo major Nilton Cerqueira, do DOI-CODI. Antes, em agosto, a comunidade de Buriti Cristalino foi tomada de assalto pelas tropas do delegado Sérgio Paranhos Fleury, do DOPS de São Paulo.

A história do Cangaço também tem um capítulo decisivo nas terras brotenses. Aqui, Lampião, respeitando pacto com o coronel Horácio de Matos, jamais pisou seus pés. Mas após a morte do líder cangaceiro, em Angico, Sergipe, para cá se escondeu um de seus braços direitos, o temido cangaceiro Corisco e sua mulher Dadá. Ela conseguiu escapar viva da perseguição policial, o mesmo não acontecendo com o marido. O “Diabo Loiro” Corisco foi morto em terras brotenses no dia 5 de maio de 1940.

Milagre da vaquinha

Há notícias sobre a existência de Brotas de Macaúbas desde o final do século XVII. Mas a povoação em torno da igreja e do cemitério, construído do lado direito, ganhou força com o milagre da vaquinha, por volta de 1792.

Aqui recorremos a uma lenda, pois não existem registros comprobatórios.

Conta-se que a filha de um fazendeiro (provavelmente um dos menbros da pioneira família Araújo Barreto) ficou muito triste com o sumiço de uma bezerrinha, presente do pai, levando a mãe a fazer uma promessa de que mandaria erguer uma capela para louvar Nossa Senhora caso o animal fosse encontrado.

Meses se passaram e a menina definhava, até que caçadores e vaqueiros encontraram o animal perdido, já uma vaquinha e com um bezerrinho, no local chamado Boqueirão, de água pura e boa e da qual não se sabia a existência até então. A água cristalina – que abasteceu a população por muitos anos – e o capim farto no local salvaram a vida da bezerrinha perdida. Além da capela, o pai da menina também doou as terras ao derredor que foram sendo povoadas até os dias de hoje. O Boqueirão foi o marco zero da cidade, mas hoje definha quase morto por anos de abandono e descaso.

A partir do milagre da vaquinha e da descoberta de importante fonte de água, nascia a florescente Vila Agrícola de Nossa Senhora de Brotas, que mais tarde foi elevada à condição de município, incluindo terras agora pertencentes a Ipupiara, Morpará, Barra do Mendes, além da vila de Corrente, hoje Bom Sossego, em Oliveira dos Brejinhos.

Agricultura familiar

A economia de Brotas, outrora próspera pela extração de carbonatos, diamantes e ouro, assim como pela criação de gado, hoje é baseada na agricultura familiar, principalmente com a produção de frutas, feijão, milho, além de pecuária e criação de caprinos. Há de se destacar as associações e pequenas cooperativas produtivas de hoje em diversas comunidades e o cultivo da cana de açúcar e produção de aguardente e rapadura, intruduzidos desde os primórdios, pelos colonizadores.

Brotas de Macaúbas também é um dos maiores produtores de cristais de quartzo. O quartzo com fios dourados – rutilo – pode ser a grande esperança para a nossa economia, mas os garimpos ainda asseguram poucos empregos, os lucros vão para uma minoria e não há recolhimento de impostos.

Afamado fumo             

O município de Brotas de Macaúbas foi no passado o rei do “afamado” fumo em corda – o ouro negro – que trouxe riqueza à região, destacando-se as comunidades de Lagoa de Dentro e Gameleira, hoje Ibipetum (esta hoje pertencente a Ipupiara), além de diversas outras localidades. O cultivo do fumo foi de grande importância para o desenvolvimento municipal, sendo marcado nos versos do hino da cidade, composto pela professora Cotinha e o maestro Manoel Barbosa Campos. Mas, infelizmente, mas não houve uma política de comercialização que garantisse maiores lucros dos agricultores e comerciantes. A descoberta de novas plantas e de novas áreas de cultivo, aliada à dificuldade do escoamento de nossa produção, além da falta de iniciativa dos brotenses em formarem, por exemplo, uma cooperativa que negociasse o produto em quantidade – já que o fumo de Brotas tinha nome e qualidade no mercado – fez com que esse negócio entrasse em decadência e hoje é apenas uma lembrança.

Os governantes

Brotas de Macaúbas viu a política dos coronéis e dos intendentes escolhidos de arma em punho; a ditadura Getúlio Vargas impor interventores, nos anos 30 e 40, até a eleição de Osório (Juca) D´Oliveira Rosa, o primeiro prefeito eleito pelo voto direto do povo, em 1946. A partir de então, foram prefeitos eleitos pelo povo: Osvaldo Rosa (dois mandatos), Gaudêncio Oliveira (duas vezes), Edson Ribeiro (três vezes), Dr. Walter Bastos de Matos, José Martins do Espírito Santo, Antônio Kléber Ribeiro (três vezes), Aurelice Barreto Farias, Arilton Oliveira, Litercílio Nunes de Oliveira Júnior, Cristina Lima Sodré, Litercílio Júnior e agoara Antônio Kleber Ribeiro para o seu quarto mandato.

Mulheres na política

As mulheres brasileiras ganharam o direito de votar em 1933, mas as brotenses somente puderam exercê-lo plenamente após a ditadura de Getúlio Vargas, votando nos deputados da Constituinte de 1945 e, em janeiro de 1947, ajudando a eleger o governador Otávio Mangabeira.

O capital político feminino em Brotas de Macaúbas é dos mais significativos e muitas são as mulheres de destaque na política local. Das pioneiras – Dona Alzira (Zizinha) Ribeiro do Espírito Santo e Dona Mariazinha Rosa de Oliveira, esposa do ex-prefeito Gaudêncio Oliveira -, no final dos anos 50, primeiras vereadoras eleitas, as brotenses sempre mostram a que vieram. Na Câmara Municipal, outras mulheres foram eleitas – algumas com expressivas votações -, a exemplo de Marli Barbosa Brandão, Cleusa Rodrigues, Libânia (dona Albana) Ribeiro de Alcântara, Lúcia Bezerra, Creuza Lima, Ildonete Custódio, Generosa Oliveira, Nila Pereira de Oliveira, Marluce Carvalho Porto, Clarice Figueiredo Matos, Flávia Ferro, Cléia Alcântara Sodré e Ivone de Jesus. As mulheres brotenses também chegaram ao mais alto posto, sendo escolhidas prefeitas – a exemplo de Aurelice (Licinha) Barreto Farias e Cristina Sodré Lima.

A Festa do Divino

A religiosidade do povo brotense é muito forte, nascida sob as bênçãos da padroeira, Nossa Senhora de Brotas. Mas um evento se destaca nesse contexto: trazidos pelos primeiros colonizadores, em sua maioria com origem no arquipélago português de Açores, a Festa do Divino Espírito Santo é um dos maiores legados culturais e religiosos da região.

Os festejos ao Divino duram 50 dias, desde a Páscoa, quando começam a ser pedidas as Esmolas até o Dia de Pentecostes, cuja data é fixada a partir do calendário judaico que também determina outras datas como o Carnaval e a Semana Santa.

A população segue devotamente o Imperador e o Capitão que levam a Bandeira do Divino (vermelha com a pomba branca estampada) de casa em casa em todas as comunidades da Freguesia. Tanto Imperado quanto Capitão são escolhidos por sorteio na Igreja Matriz ao final de cada festejo. Além das Esmolas, eles organizam a Cavalaria – quando centenas de cavaleiros chegam à cidade, na véspera de Pentecostes, trazendo a bandeira e toda a alegria dos festejos divino. O povo sai, encantado, às ruas para recepcionar uma tradição que se repete desde os primórdios de nossa cidade.

Leilões. Missas, novenas e procissão completam uma acontecimento cuja devoção está na alma brotense.

Ladainha das Esmolas

A Ladainha das Esmolas é cantada com muita fé e entusiasmo pelos devotos durante a Festa do Divino. Faz parte da visita da Bandeira de casa em casa e que arrasta multidões todos os anos pelas ruas da cidade e em todos os recantos por onde a caravana do imperador passa. Não se sabe o autor ou autora de tais versos que o povo repete todos os anos como um mantra sagrado e muito especial:

É chegada em vossa casa

Uma formosa bandeira (bis)

E nela vem retratada

Uma pomba verdadeira (bis)

Divino Espírito Santo

Em vossa morada entrou (bis)

Vem correndo a freguesia

Visitando os morador (bis)

Essa pomba que aqui vem

É de Deus muito louvada (bis)

São as mesmas três pessoas

Da Santíssima Trindade (bis)

Vem pedindo a sua esmola

Que muito carece dela (bis)

Para serem festejadas

Dentro de sua capela (bis)

Divino Espírito Santo

Dono do Sol que nos cobre (bis)

Ele é dono do tesouro

Pede esmola como pobre (bis)

Ele pede é por pedir

Mas não é por carecer (bis)

Pede para experimentar

Quem seu devoto quer ser (bis)

Divino Espírito Santo

Divino consolador (bis)

Consolai as nossas almas

Quando desse mundo for (bis)

Quem se benze com a bandeira

Desse Divino Senhor (bis)

Benze Deus na sua graça

Dentro do seu resplendor (bis)

Quem dá esmola a esse santo

Não repara o que vai dar (bis)

Seja dez reais ou vinte

Fica mil em seu lugar (bis)

Deus lhe pague a esmola

Deus lhe dê muita saúde (bis)

A esmola é caridade

A caridade é virtude (bis)

Deus lhe pague a esmola

Se vos derem com grandeza (bis)

Deus permita que por ela

No reino do céus se veja (bis)

Pontos turísticos

Além da bela Igreja Matriz, Brotas de Macaúbas possui alguns marcos dignos de registro, a exemplo da Pedra do Urubu, no alto da serra, em frente à Praça Dr. João Borges (da Matriz)  onde, diz a lenda, estaria a marca do pé do coronel Horácio de Matos feita durante as lutas em defesa pela soberania do município. 

Açude, construído no final do século XIX, início do século XX – época de seca e de quando a população viveu a “grande fome”. Fica na entrada da cidade, tendo ao fundo o Morro da Colônia, outra referência que remete à nossa lembrança, assim como o hoje depredado e esquecido Boqueirão.

Há também belos exemplos da arquitetura colonial, especialmente em algumas poucas casas da Praça Dr. João Borges que resistiram ao tempo e à sanha consumista dos homens. Com relação a isso, registramos a destruição do Sobrado do Major Quintino Arcanjo Ribeiro, local onde, nos anos 60, funcionou o Colégio Cenecista. A Igreja de Nossa Senhora de Brotas – cuja primeira reforma foi concluida em 1910 (sem as torres) é outro destaque, valendo o citar a nova torre construída no início deste século XXI, nos mesmos moldes da primeira.

Contruída pelo Major Quintino Arcanjo e sua mulher Tertuliana Novais, a Capelinha, no alto da Colina ao lado do Boqueirão, é outra referência brotense.

Na memória coletiva do nosso povo, marcos culturais, igualmente destruídos pelo descaso: As três filarmônicas – 7 de Setembro, 15 de Novembro e Lira Brotense – desapareceram. O mesmo aconteceu com a Lapinha de Joana Messias – com a morte da proprietária o presépio não foi conservado (ela não tinha filhos) e desfez-se uma tradição que encantou gerações inteiras. O outro exemplo é o Reisado – sendo o mais conhecido e popular o Reis de Lalu. Este perdeu-se no tempo, sendo até hoje lembrado pelo povo.

Fora da área urbana, outras maravilhas da natureza se destacom: o Lajedo, o Riachãogrutas do Buriti Cristalino, a Cachoeira de Três ResesSantana, Olho D´águaOuteiro do Araci, Água QuenteSanta Maria e Santa Marina, além de paisagens exuberantes em toda a região do Cocal que podem se transformar em lugares para ótimos passeios.

Culinária especial

Dos índios, ainda guardamos a tapioca e o beiju, além de alguns pratos típicos como o cortado de banana verde. A buchada, assim como a paçoca de carne seca (de pilão) são muito apreciadas, juntamente com a galinha capira. Outro destaque é o tradicional Rupiado – caldo com carne, com ovo e farinha, muito apreciado por todos.

Horácio de Matos

Nascido em Chapada Velha no dia 18 de março de 1882 Horácio de Queirós Matos talvez seja o primeiro grande heroi do povo brotense. Em defesa da hegemonia política de Brotas, Horácio enfrentou, com coragem e destemor, as forças contrárias, em especial as do coronel Militão Coelho que, no começo do século XX, desejavam levar a sede do município para Barra do Mendes.

Horácio de Matos chegou ao comando da família das mãos de seu tio também coronel, Clementino Matos. A família mantinha longa amizade com o coronel Militão Rodrigues, de Barra do Mendes, que acabou desaguando em inimizade, intrigas e lutas. Com filhos todos crianças, Clementino escolheu o sobrinho que mais confiava para essa missão. Em ritual familiar, Horácio recebe o comando numa reunião secreta onde fez o juramento para cumprir o Código dos Matos:

  • Não humilhar ninguém, mas nunca se deixar-se humilhar, por quem quer que seja;
  • Não roubar jamais, sejam quais forem as circunstâncias, nem permitir que alguém roube e fique impune;
  • Ser leal com os parentes e amigos, dando-lhes permanente proteção;
  • Ser leal com os inimigos, respeitando-os em tempos de paz e enfrentando-os em tempos de guerra;
  • Não provocar, nem agredir, mas – caso ofendido -, colocar a honra acima de tudo e reagir, pois não adianta viver sem a dignidade.

Entre as muitas lutas, destaca-se a de 1916 quando Militão Coelho arma-se e com muitos homens invade a sede do município. Foi quando o major Vena, como era conhecido o tabelião de notas Joviniano dos Santos Rosa. Ligado politicamente ao Coronel Rosendo de Amorim, outro líder politico importante e compadre de Horácio, este foi chamado. Vendo que somente pela força era possível tratar com Miltão, Horácio invade Brotas para resgatar o major Vena, que acabou levando um tiro que o atingiu na boca, e libertar a cidade.

É dessa época de pelo menos duas grandes batalhas – no Pega (hoje Nova Santana) e Buriti do Alho, onde os homens de Horácio cavaram grandes buracos, surpreendendo os inimigos, e a outra no Fundão (hoje Ipupiara), onde Militão tinha muitos seguidores. Com a vitória, Horácio assume a chefia política do município, feito Intendente, enquanto o arquiinimigo Militão volta para Barra do Mendes, então distrito de Brotas, onde se fortifica e prepara novas investidas.

Horácio ainda conandou a política da Vhapada Diamantina como chefe político de Lençóis e liderou o Batalhão Patriótico Lavras Diamantinas que perseguiu a Coluna Prestes até a Bolívia.

Na noite de 15 de maio de 1938, durante um passeio com a filha de seis anos, Horacina, é assassinado com três tiros pelas costas pelo agente policial Vicente Dias dos Santos.

Milton Santos, filho ilustre

Nascido em 5 de maio de 1926, o professor, geógrafo e jornalista Milton é com certeza o filho mais ilustre de Brotas de Macaúbas. Seu nome batiza hoje a Biblioteca Pública Municipal, localizada no antigo prédio da Prefeitura, na entrada da cidade. Livre pensador brasileiro, homem amoroso, afável, fino, discreto e combativo, dizia que a maior coragem, nos dias atuais, é pensar; coragem que sempre teve. Milton Santos nasceu em Brotas na casa de número 377 da Praça Dr. João Borges (Matriz), onde seus pais foram professores por algum tempo É doutor honoris causa em várias universidades em diversos países países e ganhador do prêmio Vautrin Lud, em 1994 (o Nobel da geografia). Apesar de aqui não ter crescido, nunca se esquivou de referir-se a Brotas de Macaúbas quando chamado a dizer onde nascera.

. Em seu legado estão coragem e originalidade, que podem ser observados em obras como O Povoamento da Bahia (1948), O Futuro da Geografia (53), Zona do Cacau (55) – entre muitos outros. Foi preso em 1964 e exilado. Outras de suas magistrais obras são: Por Uma Outra Globalização e Território e Sociedade no Século XXI.

A força dos ventos

 “Fica lá onde o vento faz a curva”. Era assim que muita gente dizia ao referir-se à distância de Brotas de Macaúbas – para a capital, Salvador, são 590 quilômetros. O certo é que essa expressão ganhou vida e significado novos com a implantação no município do Primeiro Parque Eólico da Bahia. A força do vento fez com que a Desenvix Energias Renováveis S.A., empresa controlada pelo Grupo Engevix, pela norueguesa SN Power e pela FUNCEF, inaugurasse oficialmente no dia 20 de setembro de 2012, as Centrais Geradoras Eólicas em Sumidouro, região do Cocal.

O Parque Eólico de Brotas de Macaúbas é o maior empreendimento detido integralmente pela Desenvix, com investimentos de R$ 425 milhões. O complexo tem 95 MW de capacidade instalada e um total de 57 turbinas eólicas em operação. A geografia privilegiada da Bahia, a presença de indústrias construtoras de aero geradores no Estado e os estímulos ao investimento privado, oferecidos pelo Governo da Bahia, foram determinantes para o sucesso do empreendimento, como justificam os empresários.

As torres têm 80 metros de altura, equivalente a um prédio de 20 andares e podem ser vistas a uma distância de 90 quilômetros por quem passa pela BR-242, na altura de Brotas de Macaúbas.

Brotas de Macaúbas tem agora uma nova chance de desenvolvimento econômico e que os empregos gerados por essa indústria limpa chegue de fato aos brotenses. Que a força do nosso vento energize o progresso do nosso povo!

Texto de Rosalvo Martins Júnior

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